sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Ausente

   Festa de família, todos chegavam, cumprimentavam-se com um abraço forte, terno e temeroso.
   Todos riam e acarinhavam-se, como se nunca mais fossem ver um ao outro.
   Todos comiam, bebiam, fumavam e cantavam, numa alegria saudosa, duma saudade que não passa, saudade ausente.
   Filhos órfãos que tinham, como mãe, apenas a memória e, como pai, os vícios de uma fuga louca e atordoante.
   No final, a morte não era tão penetrante, fazia falta sim, mas era entendida num calar comum a todos. A falta ali era a ausência da vida, daquele que ainda havia e poderia ter estado lá, mas preferiu esquivar-se, criar uma terceira margem. E agora todos separados por uma solidão.
   Cada um, ali, era ele, sofrendo a mesma falta, da mesma mãe, mas a mãe estava dentro, de alguma maneira.
   Só o pai faltava e, na sua ausência, imcorporavam-no pelos vícios existenciais e bebiam-no, e fumavam-no toda a essência que, se estivesse lá, teria mais gosto, mais significado.

   Éramos seis órfãos de um fim de noite qualquer, tendo na memória a alma da mãe e na saudade a despresença do pai.

20/12/09

2 comentários:

  1. sempre há um pai presente, senão, contruímos um. bom ano minha amiga, que esse parece que foi mais um empurrão para fora da caverna, né?

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  2. Bem...o que resta é guardar na memória os belos tempos que se passaram, mas, permanecer esperançosos com um futuro retorno dos que se ausentaram em vida...
    Espero que vc não desista de esperar o retorno do seu pai, espero também que seu pai, atnha-se não apenas ao que ele tristemente perdeu, não só na dor da perda, mas atenha-se ao que ele tem hoje...
    Espero Rô...espero que essa sua espera não seja longa, espero que ela ocorra em espaço temporal, tão breve quanto um piscar de olhos, ou como diria o prof paulo: o "nûn"...
    Espero que o ano que virá seja mais ameno e tranquilo que este, espero que sua dor pare de doer, se não parar que ao menos amenize...
    bjokasss

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