segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Champs Elysées



Não olhe-me
que teu olhar provoca
como a ira dos Deuses.
Temo
já sem medo.
Temo
por paixão.


Não olhe-me
que o infinito
de teus olhos
devora-me
e, presa em sonhos,
rendo-me.


Não olhe-me!
Então rezo
ao céu sagrado,
preferia ter olhado
as esmeraldas
de Medusa,
mas que perdi
minha égide
diante de ti.
Era eu tágide
hoje morri.
Tejo que
não posso ter,
de todos é,
mas só meu
no querer.
Erro meu,
ledo engano,
Engano de Leda
atomizada,
Fragmentada.


Pública e púdica
por esparsas cenas,
Fugidas,
bramidas
duma essência que passa
em tempo volátil.
E o que ficam
São histórias
pequenas lendas
mentiras saborosas.


Meu Hefesto que
forja o duro metal
em frente Afrodite,
desejo Real
devastando frestas,
passagens secretas
de mim, ego, id...
profundo.


Mito secreto do mundo
o que a alma engana,
pura e profana,
Tua lança atirada
num coração fadado,
Punhal cravado
em boca errada.

Não olhe-me...,
pois que meu olhar
recebe o teu
como rosa
que se abre
ao raio de sol
penetrante,]
fogo de Prometeu
que não dosa,
chega, invade,
Luz Fulgurante.


RJAD


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Ausente

   Festa de família, todos chegavam, cumprimentavam-se com um abraço forte, terno e temeroso.
   Todos riam e acarinhavam-se, como se nunca mais fossem ver um ao outro.
   Todos comiam, bebiam, fumavam e cantavam, numa alegria saudosa, duma saudade que não passa, saudade ausente.
   Filhos órfãos que tinham, como mãe, apenas a memória e, como pai, os vícios de uma fuga louca e atordoante.
   No final, a morte não era tão penetrante, fazia falta sim, mas era entendida num calar comum a todos. A falta ali era a ausência da vida, daquele que ainda havia e poderia ter estado lá, mas preferiu esquivar-se, criar uma terceira margem. E agora todos separados por uma solidão.
   Cada um, ali, era ele, sofrendo a mesma falta, da mesma mãe, mas a mãe estava dentro, de alguma maneira.
   Só o pai faltava e, na sua ausência, imcorporavam-no pelos vícios existenciais e bebiam-no, e fumavam-no toda a essência que, se estivesse lá, teria mais gosto, mais significado.

   Éramos seis órfãos de um fim de noite qualquer, tendo na memória a alma da mãe e na saudade a despresença do pai.

20/12/09

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Como será viver ao lado de um vulcão? Seria a tensão da vida muito mais violenta e natural? E os sentidos? O que sente quem tem ao lado da janela do quarto um gigantesco monstro que adormece sua fúria em algum lugar adentro?
Talvez sejam os mesmos medos, os mesmos sonhos e até as mesmas faltas de vontade que nos habitam, a mim e àquele que vive ao lado de um magma em potência...mas o que nos separa pode então ser pura e somente a terra da qual brotamos.
Se daqui de longe anseio pela emoção de ver a fúria agir, pode ser porque é seguro assim, distante...
Mas daí, de onde tudo explode (de dentro de mim) quizesse alguma calmaria.
É que o contido que sou, se faz sempre regado às limitações da janela do quarto abrigo, e aquele que tem um continente, ou uma península no coração vive no limite de cada dia.


RJAD 18/12/09

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Incógnito

Porque a brutalidade de tua verdade é doce e frágil.
Porque a verdade de minha essência esconde-se num labirinto de vidro.
E nos vemos, e nos compreendemos, e nos amamos ao ponto de nos odiar.
Porque estamos tão evidentes que desconfiamos e criamos mistérios. Fingindo não sentir, mentindo não querer, mais do que o existente menos do que nossa solidão.

RJAD 05/12/09


Passado Conjugado Imperfeito


Precisei deixar, para saber que não queria
Precisei perder, para saber que não tinha
Precisei da dor, para saber que não sentia
Precisei do vazio, para saber que não vinha


RJAD 04/12/09