terça-feira, 24 de novembro de 2009

Crônica

Essa crônica saiu naturalmente, foi para um trabalho de Leitura e Produção de texto no ano de 2007 na Universidade. Ano em que ela me deixou, escrevi pensando na rosa do meu jardim, a mais bela, um dia antes do que seria o seu aniversário!

Lembranças de Minha Vida de Menina



Fora apenas um dia, alguns talvez, mas marcaram a minha eternidade.


Havia prometido para mim mesma não fazê-la personagem de minhas histórias, mas a voz gritante de um coração de bardo foi mais forte que os sentidos da razão.
***
Naquele dia de sol saíamos eu e aquela bela senhora para passear, talvez, não sei ao certo, pois nos meus oito anos de idade não conhecia muito as idas e vindas ou os caminhos que trilharia pela minha vida, o que sei realmente é que íamos à “cidade” (como era conhecido o centro de São Paulo).


Meus olhos, naturalmente grandes, eram ainda maiores observando todas aquelas novidades pela janela do ônibus, parecia um belo quadro. A sensação da descoberta beirava o medo do desconhecido e a atração pelo novo, ao lado de minha mãe eu desvendava um outro mundo, ela olhava-me com carinho, com um amor contemplativo e sorria, sua mão protetora segurava na minha pequena e insegura.


Caminhávamos pela avenida São João, o velho e o novo encontravam-se numa mistura nada mais nada menos do que a natural condição da vida. Minha mãe mostrava e falava sobre o que conhecia dali e eu atenta a cada detalhe enchia-me de imagens e vozes da cidade quando de repente, sabendo do meu medo e atração por filmes de terror, ela mostrou-me uma loja de fantasias toda cheia de máscaras de monstros as mais assustadoras e então me disse “Tá vendo filha, sabe aqueles bichos da TV que você têm medo? Então são todos de mentira. Olha só, são estas máscaras aqui que os atores usam!” Fiquei contente por saber daquela história e por Ter aquela senhora sábia ali ao meu lado me ensinando sobre as coisas com o seu conhecimento que não era de mestre ou professor, mas era de quem utilizava as palavras com o peso imposto dos anos sem se deixar gastar a ternura de mãe.


Hoje, após dezoito anos deste dia, passando em frente aquela mesma loja recordei tudo com o frescor de como se tivesse ocorrido a poucos minutos, aquele tempo de menina o qual os monstros eram apenas figuras feias da TV e eu ainda tinha aquela mão, meu abrigo, meu ninho para onde eu sempre voltava. Mas agora os monstros me amedrontam mais, são pessoas reais que invadem os dias, as horas, a mente, assustam com ameaças e arrancam a minha inocência. Se ao menos ainda tivesse aquela que me acalentasse...


Mas os anos são outros e o que resta são apenas lembranças de minha vida de menina.

3 de Setembro de 2007



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Acredito que a única dor que me provoca e impossibilita minha cura é esse desejo de tudo, que não passa. Por vezes acreditei ser o meu coração como um submarino, que afundava no profundo, mas vejo ser só um navio, o qual rasga as superfícies, perturba as águas e deixa apenas leve espuma que esvai, foge ao longe em busca de outras águas mais.
Tenho o coração atravessado de infinito e um corpo denso de realidade. Nunca mergulharei no abismo, só tenho dele a sensibilidade.


Photo by Steve Mccurry

sábado, 7 de novembro de 2009

Calmos, serenos e desapaixonados são estes teus olhos, quase silenciosos, a miséria de minh'alma, que se entrega frouxa, e desabrocha num labirinto entre teus dedos, na força de teu pulso.
E vivo densa e toda, e desfaleço no ardor de teu abraço, e me perco no mistério de teus olhos...teus olhos. Profundos. Dizendo tudo num acorde mudo.