terça-feira, 20 de outubro de 2009

Uma obra quase minha

      Sabe aquela obra artística que você olha, ouve, sente, enfim, e parece que de imediato ela é sua? Aquela a qual você percebe uma imensa sintonia? Pode ser um quadro, uma música, um filme, um poema... É aquela obra que, ao percebê-la por completo, você, com grande ar admirado pensa: "Eu gostaria de ter feito isso!" Não por um ego exacerbado ou algo do gênero, mas é como se aquilo tivesse saído de dentro de você e, ao mesmo tempo, não é seu.
      Pois então, eu sinto isso quando leio O Último Poema de Manuel Bandeira. Toda vez que o tenho comigo ou penso nele, parece que saiu de mim...é como se estivesse sido expurgado de minha alma. Interessante como a arte consegue dar um sentido quase que metafísico para as coisas.
      Bom, agora segue o poema daquele que teve a vida como um paradoxo total; Manuel Bandeira, o poeta que nasceu com o mal-do-século e morreu nos fragmentos da modernidade.

O Último Poema

Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos]
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

                                                          Manuel Bandeira, In Libertinagem estrela da manhã



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