quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Maçã e a Cama

Bom, disseram-me, uma vez, que a voz do eu lírico em A Maçã de Raul Seixas seria, na verdade a cama. Isso me fez ficar pensando por longos tempos. Mesmo porque eu concordava com muitas das idéias, mas não sabia dizê-las, não que hoje eu saiba plenamente. O que tudo fiz foi traduzir meus sentidos em palavras que acabaram por acontecer em um poema. Na tentativa de ser cama ou maçã, traçei uma linha sinuosa entre o sagrado e o profano.

Erudito


Por trás das cortinas de névoa
Vejo teu desejo impuro
Em devastar a relva de mim
De mim e outras colombinas,
Arlequinas, ninfas urbanas
De olhos oblíquos
De almas profanas.

Tua boca pede
Mais que o meu beijo,
Um beijo a mais
Outros ais
A rolar em tua cama
Perfumes de um corpo
Do corpo de quem ama.

Quero também ser tua cama
E sei, não és um ser só meu,
És o fogo de Prometeu,
Traga-as então
Ninfas Graças Valquírias
Concubinas escarlates
Bacantes, as fadas dos vinhos
Todas, amálgama de tua cama
Beije-lhas o corpo vacilante
Sinto-lhes o gozo delirante
Durmam em mim.

Um comentário:

  1. Fiquei excitado.
    Fui sincero; bem que poderia ficar no: que lindo, que fofo, que coisa 'bla-bla-bla'.

    Mas fui profano e profanei...

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