sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sublimação

Já joguei tudo o que eu tinha e atirei-me da janela ao vislumbrar o amor. E ele, olhando-me aos pedaços no chão, pulou sobre minhas partes, acendeu um cigarro e saiu andando pela cidade.

RJAD 18/06/10

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Guinevere

Agora ela não era mais escrava. Quando as algemas foram tiradas, saiu em disparada sem olhar para trás. Correu. Desvairada e sorridente. Ria um riso alto solto que subia aos céus.

Então, também podia sonhar, tudo aquilo que guardava tão sofregamente no coração.

Gargalhava ensandecida; deixava a torre que a prendia e seguia pela trilha de terra dura e úmida por entre o mato - aquela relva fresca ainda tão verde – e nem sabia para onde o caminho a levaria.


Ao longe.


Tudo podia ser. Quase não restavam mais amarras, que a continham em pulso firme. Ria-se de tudo, da própria Fortuna de outrora, dos olhos sisudos que a controlavam; ria também do medo que tinha do juiz de suas ditas, aquele feroz que a vigiava incessante até quando dormia ou sonhava, acordada, as paixões de uma vida.
Ria largamente da existência que deixava. De conta certa, deu as costas ao passado e sorria convidativa para o novo, esse estranho.


Estranho.


Caminhou mais calmamente numa alegria amena ao pensar nesse desconhecido que acabara de chegar, esse novo algo, quem sabe o que. E continha as linhas da face e a fenda nos lábios. Num som quase mudo, sorria em campo aberto.

E tremeu diante do rio a sua frente e riu um riso nervoso de um mundo novo.


Dilema.


Já não fechava mais os olhos e, estática, amedrontava-se a obsessiva donzela. Tudo diferente, incerto, não-sabido, não-permitido. Vida aberta, mata adentro, rio afora, tudo muito profundo e irreconhecível; tão diverso das paredes de pedras geladas e escuras que costumavam conservá-la, guardá-la em sua servidão hipnótica.

Liberta, não sabia o que fazer, presa, já conhecia os descaminhos.

Olhou ao redor para a sua liberdade e não sabia o que possuir, o que ser ou o querer. Já não tinha sonhos; podia fazê-los e não os sabia mais.


Nada em que prender-se.


Girou a cabeça e, com os olhos na direção do firmamento, empalideceu; parecia que aquele imponente azul cairia sobre ela, sobre seus pensamentos. Novos olhos inquisidores a observavam, ou os velhos olhos em um novo mundo.

Diante da culpa que cingia sua alva roupa num rubi luxuriante, havia que decidir. Seus olhos já não eram celestes, cobriam-se dos véus mundanos. Mas ainda assim um rosário torneava-lhe a direita mão.


Desvelo.


Não restavam incertezas, era só uma a escolha.

Olhou para o rio escuro e caudaloso, olhou para a cela na penumbra mortalmente calma.

Era sofrer no eterno ou no interno.


Respirou profundamente, decidiu o seu destino e correu.






Roberta Domingues 13/03/08

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Definição

Filosofia: 1. Paliativo logicamente válido; 2. crença cientificamente comprovada; 3. ilusão geometricamente demonstrada; 4. retórica perfeccionista a priori; 5. prática mental da servidão voluntária.
Little Tale

Angels like smoke of our cigarretes, religion of counciousness.
In a way, anyway, the meet of our feelings, of our trues, wich was nothing but the fact of our ignorant mistakes.
Well, the light was on in our sights, or just look like. And we bet. We bite in a hungry, in a hurry...
Late to be, to seek an end. Trying to comprehend a bit of existence.
Shame on us, periods of a line.
 Reaching not to be what we were. Material of some substance, doesn't matter what.
But the night was the end, dying on the next day with a real Sun melting all the possible ilusions.
Going on as the night, becoming just part of our dreams. Lefting a little light for your cigar above and beside your screams.

RJAD

terça-feira, 20 de abril de 2010

O Nada

Depois, o vazio, a profundidade dum espelho d'agua, a intensidade de uma queda livre, mas você não era o chão e ele não estava lá.
Na minha cama estreita só cabem os sonhos doentes, na sua nem sua mente.
O caminho de volta dói mais evidente, é porque o sol já aponta meus vícios latentes.
Só queria entender...ou sentir, mas nem filosofia ou qualquer poesia irá responder ou resistir.

RJAD 18/04/10

Sonho que se sonha só

Disseram-me que brincar de ilusão não podia, que era perigoso e mentira sem rosto. Mas insisti, teimei com a palavra e imaginei, e criei imagens trocadas e troquei a ordem do mundo e vi o arrebol no lugar da morte do sol, e vi frescor na tempestade e tempestiei com o vento na relva, deitando com Whitman no leito verde de sonhos.
Delirei, sim, delirei amigos. Já que todos criam matéria oca para assegurar suas realidades, esvaziei minha substância para preencher de sonhos criados sem matéria dura.

RJAD 16/04/10

sábado, 27 de março de 2010

No quarto, pela manhã, abro a gaveta, encontrando um horizonte de máscaras, possíveis, imagináveis, que terei de escolher mal o Sol nasce, e dançar no baile de carnaval da vida que não decidi...

[espaço  em branco]

Acho que na vida não dá para gostar das possibilidades. Não por serem ruins, mas eu, por não saber suportá-las, dar-lhes o suporte da escolha.
E, no que penso,  contemplo, reflito no tempo, este passa...e a possibilidade que era tão intensa dissolve-se como areia, espalha pelo vento.

RJAD Março