Foi uma surpresa! Com este poema acabei participando das finais do Concurso de Poesia na São Judas, não esperava. Acho que por isso foi mais interessante ainda. Sem mais delongas, vou postar o poema. Uma pena que as discordâncias de pensamentos em agir no mundo fez amante e cousa amada afastarem-se. Mas como poeta da vida, nunca dou ponto final...
Ausência
Tudo está pleno
de horas partidas
de vozes contidas
de gritos serenos.
Possuo a falta
dos olhos de ti
já em noite alta
vem, diz que morri.
Desejo te invade e,
despido de mundo,
prova da verdade
do meu ser profundo
Sou eu
teu avesso
e padeço
no breu.
Luz que és tu
desvela no abismo
o meu corpo nu.
2009
sábado, 31 de outubro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
De repente. É assim, quando à margem na espera a alma cansada não deseja mais ser "cautivo de tu corazon", e então, muda o curso do rio e cria uma Terceira Margem, inerte de tudo que foi. Mas é assim, de repente, como o Poeta tanto dizia. Na verdade, não gosto do nome que ele dera ao poema, preferia o antigo que era O Poeta Diz Adeus à Amiga, acho mais sincero e mais tocante também. Talvez hoje seria A Poeta Diz Adeus ao Amigo, mas ela não sabe dizer adeus, ela espera e diz quem sabe um até logo, até um dia, até a próxima vez.
Para não furtar-me de não expor, segue O Poeta Diz Adeus à Amiga, de Vinícius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
Para não furtar-me de não expor, segue O Poeta Diz Adeus à Amiga, de Vinícius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Uma obra quase minha
Sabe aquela obra artística que você olha, ouve, sente, enfim, e parece que de imediato ela é sua? Aquela a qual você percebe uma imensa sintonia? Pode ser um quadro, uma música, um filme, um poema... É aquela obra que, ao percebê-la por completo, você, com grande ar admirado pensa: "Eu gostaria de ter feito isso!" Não por um ego exacerbado ou algo do gênero, mas é como se aquilo tivesse saído de dentro de você e, ao mesmo tempo, não é seu.
Pois então, eu sinto isso quando leio O Último Poema de Manuel Bandeira. Toda vez que o tenho comigo ou penso nele, parece que saiu de mim...é como se estivesse sido expurgado de minha alma. Interessante como a arte consegue dar um sentido quase que metafísico para as coisas.
Bom, agora segue o poema daquele que teve a vida como um paradoxo total; Manuel Bandeira, o poeta que nasceu com o mal-do-século e morreu nos fragmentos da modernidade.
O Último Poema
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos]
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manuel Bandeira, In Libertinagem estrela da manhã
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Um Coito Psíquico
A perda da liberdade pelo ganho da sobrevivência.
Meu mundo parco e pobre lamenta a ausência de um não sei o que, que se perdeu entre um dia de sol e uma clausura moderna; máquinas a trabalhar a todo o momento erguem paredes dentro e fora de mim, não posso ver a nudez estampada nos olhos, não posso alimentar-me de sonhos perdidos nas brumas; mas brumas não há mais, são somente fumaças que encobrem o horizonte de expectativas.
Fumaças que não me deixam inspirar, não me inspiram, respiro, respira, apenas no limite da sobrevivência, da subserviência de um poder onipresente que me enxerga por onde quer que eu vá, então cubro meus pensamentos de máscaras das mais variadas.
Engano a consciência desesperada e ansiada por mais, algo mais, cubro a necessidade com o produto comprado no impulso de obter aquilo que ali não está. É a força do domínio que já apoderou meu sangue doente e frágil.Consumo, como e abraço os dejetos de um desespero, por não saber o que buscar, por ter perdido o movimento de propulsão; o impulso se transformara na força motriz que gera a radioatividade devoradora de meus pensamentos.
Excesso de vida engarrafado e vendido a preços de mercado.
Não pode comprar? Tudo bem; deseje e aumente o valor da droga ou compre, a longos prazos, sabores variados de desvios conscientes.
Autoflagelo, síndrome da coita, o pobre e desamparado ser humano despido e triste, não se move, dói-se então por ele, simples e humilde.
Ora, se não se move desistiu? Se não concorda nem aceita, acaso muda?
Ah, não se preocupe, não desista, há sempre a janela da esperança de onde se possa saltar, e, ao saltar, é possível descer vendo todas as outras janelas de vidas até então desconhecidas, verá por um curto espaço de tempo, não, não havia tempo, foi por isso que não as conheceu. Não é verdade; na verdade agora é que não há...
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
A Maçã e a Cama
Bom, disseram-me, uma vez, que a voz do eu lírico em A Maçã de Raul Seixas seria, na verdade a cama. Isso me fez ficar pensando por longos tempos. Mesmo porque eu concordava com muitas das idéias, mas não sabia dizê-las, não que hoje eu saiba plenamente. O que tudo fiz foi traduzir meus sentidos em palavras que acabaram por acontecer em um poema. Na tentativa de ser cama ou maçã, traçei uma linha sinuosa entre o sagrado e o profano.
Erudito
Por trás das cortinas de névoa
Vejo teu desejo impuro
Em devastar a relva de mim
De mim e outras colombinas,
Arlequinas, ninfas urbanas
De olhos oblíquos
De almas profanas.
Tua boca pede
Mais que o meu beijo,
Um beijo a mais
Outros ais
A rolar em tua cama
Perfumes de um corpo
Do corpo de quem ama.
Quero também ser tua cama
E sei, não és um ser só meu,
És o fogo de Prometeu,
Traga-as então
Ninfas Graças Valquírias
Concubinas escarlates
Bacantes, as fadas dos vinhos
Todas, amálgama de tua cama
Beije-lhas o corpo vacilante
Sinto-lhes o gozo delirante
Durmam em mim.
Erudito
Por trás das cortinas de névoa
Vejo teu desejo impuro
Em devastar a relva de mim
De mim e outras colombinas,
Arlequinas, ninfas urbanas
De olhos oblíquos
De almas profanas.
Tua boca pede
Mais que o meu beijo,
Um beijo a mais
Outros ais
A rolar em tua cama
Perfumes de um corpo
Do corpo de quem ama.
Quero também ser tua cama
E sei, não és um ser só meu,
És o fogo de Prometeu,
Traga-as então
Ninfas Graças Valquírias
Concubinas escarlates
Bacantes, as fadas dos vinhos
Todas, amálgama de tua cama
Beije-lhas o corpo vacilante
Sinto-lhes o gozo delirante
Durmam em mim.
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